*Soneto do amor estranho*
Não sei
que amor é este que me queima Qual fogo a crepitar numa fogueira Não sei que amor é este qu´inda teima Em fazer-me
sonhar a vida inteira
Não sei que amor é este que me dói Qual vidro que se ferra em carne pura Não sei que
amor é este que destrói Castelos onde a vida é só ternura
Não sei que amor é este que provoca Em mim, a mais
estranha comoção Pelo pavor dum sonho inacabado
E que deixa a bailar na minha boca Poemas que dão voz ao coração
Embora o coração sofra calado
Março 2006
*O jardim do coração*
Roubei ao sentimento das
palavras O sumo das palavras por dizer E como quem recebe rosas bravas Reneguei o perfume do prazer
Sorvi
a majestosa substância Que vem, com o chegar das primaveras E reneguei o tempo da distãncia No tempo, em que o
tempo são quimeras
Depois remediei a minha dôr Com versos decretados p´lo amor Duma vulgar mas singular paixão
E como quem planta rosas bravas Plantei a essência das palavras No jardim a que chamam coração
* Junho 96 *
*Soneto da resignação*
O
dia tem a côr descolorida E nem sabe se vai chegar o sol O mundo começou nova corrida Mas quanto a mim... em passo
caracol
Vegeto calmamente pelo tempo Sem entender como cheguei aqui As linhas do meu próprio pensamento Não
sabem se ganhei ou se perdi
Neste viver, talvez descompassado A vida, que me deu o lado errado Não tem a solução
do meu dilema
Agora pouco há que me conforte E só não digo mal da minha sorte Porque não quero matar este
poema
* Junho 1998 *
*Soneto do coração*
Por muito que vos diga num
poema Decerto, estou aquém do que queria Pois não tenho total sabedoria Para dar mais verdade a este tema
Por
muito que vos diga, não consigo Disfarçar as carências e os pecados Os versos que vos dou, são limitados Porém
têm um rosto sempre amigo
Encontrareis na minha poesia O sol que marca a minha fantasia Como quem enlouquece
de paixão
Sou poeta, talvez porque sou dôr E neste meu poema sofredor Ouvireis o bater dum coração
* Setembro 99 *
*Soneto do desnorte*
Sinto-me
perseguido p´lo desnorte Ele aparece sempre aonde estou Será que sou presságio de má sorte? Ou será, que já pouco
ou nada sou?
Sinto-me desprezado p´lo amor Ele foge de mim, apavorado Será que tenho um pacto com a dôr Ou
será que sou amor desencontrado?
Mas seja como fôr, não baixo os braços E vou tentar encaminhar meus passos Em
direcção ao meu tempo real
Não deixo que a má sorte me torture Pois sei que não há mal que sempre dure Nem
há bem, que não vá ter ponto final
* Novembro 1998 *
*Soneto do fim*
O
fim, há-de chegar pausadamente Trazendo a solidão compensadora Depois, terei um verso comovente Marcando a exactidão
daquela hora
O mar dispensará todo o seu sal Para dar mais sabor a qualquer pranto A lua cobrirá o ritual
Com laivos de luar em cada canto
Virão de toda a parte vozes novas Que decerto trarão bonitas trovas Para
cantar, em honra do tal fim
Portanto, minha musa inspiradora Não te chegues p´ra mim naquela hora Em que nem
eu serei senhor de mim
* Junho 1998 *
*Soneto nocturno*
No
seio dessa noite sedutora Descobri o pulsar da solidão Fiquei com a imagem tentadora Da tua mão, tocando a minha
mão
Reservei o espaço da memória Para guardar o som da tua voz Para ver se a nossa linda história Escreve
letras d´oiro só por nós
Até lá, serei poeta sonhador Gerando versos feitos com amor Rimados com paixão devoradora
Sou feliz por poder ser teu amigo E descobri o prazer de estar contigo No seio da tal noite sedutora
* Janeiro 1997 *
*Soneto número um*
Sonhei com a amanhã que não chegou
E que me decretou a solidão Amei o sol da noite que ficou Sofrendo a dôr da minha frustração
Sonhei com
a manhã que me não viu E que me transformou, em mão parada Sofri a noite longa que surgiu No silêncio da minha
madrugada
Sonhei com a manhã que não chegou E na falta do amor que não reinou Senti o clarão do desalento
Perdi o som da voz recuperada Ganhei uma saudade magoada E fiquei a dormir no pensamento
*
Janeiro 96 *
*Soneto número dois*
Um
dia morrerei, mas antes disso Projectarei em ti, o meu futuro Alicerçado na força do feitiço Do dia sem manhã,
que não procuro
Um dia morrerei, mas antes disso Sentirei no teu corpo, a redenção Daquele meu pecado em reboliço
Neste viver constante em devoção
Um dia morrerei, mas até lá Inventarei um tempo que não há Para sonhar
o sonho que não tive
Um dia, tarde ou cedo, partirei Mas nesse corpo a que me dediquei A minha juventude ainda
vive
* Janeiro 96 *
*Soneto número três*
Que seria do mar do pensamento Se o tempo rejeitasse fantasia? Seria mar de puro sofrimento
Sofrendo com marés de nostalgia!
Que seria do sol do meu verão Se o tempo rejeitasse o mês d´Agosto? Seria
a força mor da decepção P`la falta da beleza do sol posto
Que seria de mim sem o teu mar? Que seria de mim
sem o teu sol? Que seria de mim, enfim... sem ti?
Seria um simples corpo a navegar No mar da vida, em passo
caracol E só de pensar nisso... já morri!
* Fevereiro 96 *
*Soneto número quatro*
Queria perguntar ao mundo novo Qual
o projecto real da existência Sabendo que nas veias dêste povo Vai correndo o valor da dependência
Queria
perguntar ao mundo novo Qual o tamanho da sua dimensão Sabendo que nas veias dêste povo Corre o sangue da sua
inspiração
Queria perguntar ao mundo novo Se pensa dividir o seu espaço Em partes bem iguais, p´ra cada um
Conferindo ao seu humilde povo O refúgio real para o cansaço Que em todos, há-de ser ponto comum
* Abril 96 *
*Soneto para cem*
Nas
folhas do teu livro mensageiro Encontrei mil pedaços de paixão Meu bom amigo, poeta e companheiro Foi bom ouvir
falar teu coração
Senti o respirar da tua voz Em cada pensamento versejado Até senti o sonho mais atroz Que
fez de ti, lamento consumado
A vida reservou para te dar Uma paixão sem tempo p´ra durar Mas que vai perdurar
na tua dôr
Porém a solidão também te deu O dom dum verso que t´enalteceu E pelo qual... eterno é o amor!
* Novembro 1998 *
Para o meu amigo, Alfredo Manuel, com aquele abraço especial aonde se sente o aperto dum coração amigo
*Soneto para ti*
A boca que me dão para beijar Não
tem o teu aroma tentador Porém, se te consigo imaginar A boca que me dão, já tem sabor
Os braços que me dão
para apertar Não são o meu aperto desejado Porém, se te consigo imaginar Já esses braços são do meu agrado
O
peito que me dão p´ra descansar Não tem o meu afago preferido Nem tem a exactidão do teu calor
Porém, se te
consigo imaginar Já tudo para mim faz mais sentido Já tudo para mim, tem mais valor
* 08 de Dezembro
*
*Soneto real*
Na
esquina do pecado sensual Um sorriso, vale mais que mil palavras O olhar, tem a essência d´ervas bravas Que seduzem
o instinto natural
Na mente, surgem sonhos de prazer P´la luxúria do corpo desejado No fogo dos sentidos a
ferver Aceita-se o prazer acelerado
Depois do vendaval tão irreal Sentimos o estado emocional Pulsar,
em sintonia com o medo
Na esquina do sorriso enganador Ficou por decifrar um grande amor E a vida armazenou
mais um segredo
* Dezembro 1997 *
*Soneto rima*
Eu sou o desencontro acontecido
No tempo da procura desejada Tu és a solução desencontrada Num sonho que se dá como perdido
Sem ti, já
pouco ou nada faz sentido Sem ti, já nem o verso tem valor Tu és soneto-rima dum vencido Que não venceu a guerra
do amor
Mas tens no pensamento imaculado Melodias decretadas pelo fado Que chora, quando chora uma cantiga
Ai meu soneto que sonhas perfeição Tens contigo, manhãs de solidão Na perfeição da tua voz amiga
* Junho 1998 *
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