Tributo
ao rei dos poetas *José Carlos Ary dos Santos*
Passos calmos, passos certos Braços
firmes e abertos... Rosto sorrindo ao futuro Vida entregue à lei da vida
Verdade escrita e sentida... Amassando o pão que é duro
Sofreu
as horas penadas Rompeu pelas madrugadas... Calou fundo o país novo
Abriu as portas fechadas
Cantou as vozes
caladas... Viveu p'ra se dar ao povo
Foi aquilo que quis ser Na sua força de ter... Uma rosa em cada mão
Limitou a sua vida
Por uma causa sofrida... Em defesa da
razão
O silêncio foi a lei Que calou a voz do rei... Dos sentidos sempre alerta Ficou
a sua coragem
Ao partir nessa
viagem... Triste e sem morada certa
As suas mãos de criar Acabaram por ficar... Cerradas, frias e sós O
seu nome brilhará Num fado que bailará... Na alma de todos nós
Tributo ao poeta
*António Torre da Guia*
Ergui uma *Torre*
ao fado... Uma *Torre* a meu contento
Depois, fiz-lhe
o baptizado... Na igreja do sentimento
Levei para seu padrinho O luar envergonhado Que soluça bem baixinho
Os versos dum lindo fado
Para tornar natural... Este momento celeste Falei-lhe de Portugal... Trovador do
vento agreste
A guitarra abençoou Este baptismo perfeito E quando um fado tocou Deixou-lhe fado no peito
Houve poemas gerando... Momentos de nostalgia E a *Torre* nos vai dando.. Versos de *Torre da Guia*
29 Outubro 99
Tributo a um virtuoso
da guitarra: *Alcino Frazão*
A guitarra mete dó Levaram-lhe certo dia
Cinco sentidos, fulgor Ingloriamente só Não
esconde a nostalgia
Onde mora a sua dôr
Fez-se noite
no meu povo Roubaram ao nosso fado
A magia da verdade Zelando por fado novo Andam
sombras do passado
Ombreando c'oa saudade
Quase
sem saber porquê... Afoguei-me na saudade Dum tudo, que se não vê... Mas que foi realidade
Retrato neste poema...
A voz da alma desperta Na minha ânsia suprema... De ver tua alma aberta
E na hora do abraço... Que durará uma
vida Sinto doer o cansaço... Da saudade adormecida
Cooperativa de Alcantara - Fevereiro
de 1993 Estes versos foram escrito durante uma sessão de Fado Vadio na companhia do poeta António Frazão pai
do malogrado Alcino!
Tributo á Diva do
Fado *Amália Rodrigues*
Fez-se a vontade
de Deus... Cumpriu-se o negro destino Todos os ais que eram teus... Agora entoam nos céus
Embalando o Deus
menino
Que bela forma de vida... Nos déste através da voz Nossa alma engrandecida... Ficou mais triste e sentida
E a saudade vive
em nós
Coração independente... Que choras a tua dor Guardarás eternamente... A imagem reluzente
Duma voz cheia de
amor
Amália, fado e glória... Rainha de Portugal Guardaremos tua história... Na gaveta da memória Porque tu és imortal
06 Outubro 99
Tema gravado por: ROSINA ANDRADE *Fado
Bailado*
Minha filha, meu poema... Alma da minha
verdade
Minha inspiração suprema... Minha doce
felicidade
Meu pedacinho da vida... Com olhos da
côr do céu... Minha roseira florida... Prémio que a vida
me deu!
*Espero-te*
Espero-te loucura! Será que vens? Ou serão as
minhas esperanças, gotas perdidas no orvalho dum desejo, que por mim não tens?
Oxalá que não!... caso contrário...
Morrerei aos braços deste poema que sonha com o teu beijo feito calvário!...
Vem depressa!... vem amor! Não
deixes amanhecer cedo demais! Nem deixes que a primavera desta paixão saudável pura e muito louca, se transforme no
inverno do meu descontentamento e na chuva triste dos meus ais!
Não sei o que fazer, se me faltas! Onde estás
amor?
Oh!... que pergunta tão parva!... eu sei muito bem onde estás!
Estás na beleza duma flor! Estás
no meu coração! No meu pensamento! Nos meus sonhos! No meu sol! No meu luar! No meu céu! No meu mar!
No meu passado! No meu presente! Só não sei se estarás no meu futuro... infelizmente!
Porém... nesta
hora por mim ansiada e por ti prometida por favor, não faltes!... porque se me faltas... falta-me a vida!
Se
vieres... farei deste momento contigo o tempo inteiro da minha existência! Se partires para sempre da minha vida
só e triste ficarei... nada mais valerá a pena... e então... por ti... Morrerei!
Março 2000
*Génios do Mal*
Há génios, que
sem saberem... O mal que nos vão fazendo Inventam tudo o que querem... E o povo lá vai sofrendo
Fabricam armas
de guerra De precisão eficaz E vão inundando a terra De guerras, em vez de paz
Dizimam campos de trigo...
Prá droga ser plantada Sem medirem o perigo... Dessa decisão errada
Inventam mil foguetões Para passear na
lua Mas não têm soluções Para os buracos da rua
Jovens de cara pintada... Com a côr do desalento Entendem
não valer nada... A dôr e o sofrimento
Os valentes que lutaram Em nome da liberdade Nunca se reencontraram
Neste tempo sem idade
Nesta agitação constante... De movimentos medonhos Está muito mais distante... O futuro
dos meus sonhos
Oh senhores do mundo novo Não façais sofrer o povo!
*Utilidade
do voto*
Qual rocha, qual mexilhão... Qual útil, qual carapuça O bicho que não afuça... Tem
sempre um voto razão Arma de mão...
Utilidade do voto... Quer dizer patriotismo Mas já chega de lirismo...
Neste futuro remoto Que eu aborto...
Abortar, interromper... Ou corromper o percurso Nunca fui nem serei Urso...
Hibernar não pode ser Não é viver...
Por causa do voto casto... Do mineiro e do dentista Já tivemos um calista... A
controlar o repasto E o gasto...
Ai voto, voto, votão... Ou nada, tudo depende De quem á força se rende...Sem
bandeiras de perdão Viva a nação...
Não chames ao voto útil Porque o voto fica fútil Chama-lhe só consciência
Ou simplesmente decência
12 Setembro 2005
Ao amigo que perdura Sérgio Marques
de seu nome Que me vai matando a fome De amizade e de cultura
*Se
o homem quiser*
O mundo onde vivo... É um mundo em guerra Se o homem quiser... Trará
paz á terra
O bairro onde moro... É um bairro pobre Se o homem quiser... Ele será nobre
A mesa aonde cômo...
É uma mesa vã Se o homem quiser... Nada faltará
A cama onde durmo... Não tem cobertor Se o homem quizer...
Sobrará calor
A minha cadeira... É chão variável Se O homem quiser... Será confortável
A minha tigela...
É de toda a malta Se o homem quiser... Comida não falta
Este chão que piso... É solo manchado Se o homem quiser...
Será plantado
A minha seara... Tem muito capim Se o homem quiser... Será um jardim
No mundo onde vivo...
Há paixões sem lei O amor será rei... Se o homem quiser
*Realidade*
Era uma vez,
um amor incrível Num daqueles romances sem solução Por vezes, parecia ser impossível Haver tanto fogo, num só
coração
Ela sonhava com beijos reais Dum homem banal, que não a queria Sonhava, sonhava, por vezes demais
Lutava por ele, não o conseguia
Passava por ele, mas não o olhava Olhava p´ra ele, sem ele notar E se
a boca dele, outra boca beijava Ela tinha vontade, de não o amar
Sorria, dançava, parecia feliz Porém bem
lá dentro do seu coração Estavam os sonhos que ele não quiz Estavam desejos dum amor em vão
Havia outro alguém
que a desejava E que lhe daria sonhos de verdade Por tanto a querer, já se contentava Em dar-lhe uma boa e franca
amizade
Que coisas estranhas tem o sentimento Que nunca consegue ter a mesma voz Por tanto te amar, não há
um momento Em que não deseje estar contigo a sós
E assim vão passando dias e mais dias Ambos suspirando por
razões iguais Na alma dos sonhos, há mil fantasias Que sendo bastantes, nunca são demais
Talvez eu um dia,
tenha beijos teus Talvez eu um dia, te possa abraçar Entretanto podes dar Graças a Deus Porque tens alguém que
te sabe amar
*Poeta genuíno*
Poeta genuíno,
é todo aquele Que respira mensagens de valor... Alguém que tendo tudo, nada é dele A não ser a semente do amor...
*Poeta por inteiro é todo aquele* *A quem Pessoa chamou... bom fingidor*
Poeta é quem se dá ao sentimento
Fazendo bem, mas sem olhar a quem... É quem tem a raíz do pensamento Suspensa no luar que vem do além...
*Poeta...
é só quem rima fingimento* *Com o sonho dum tempo que não vem*
Poeta é todo aquele que sente Receio de viver
na solidão... E vai matando o tempo docemente Com a sua mui nobre inspiração...
*Ser poeta é ver o mundo mais
crescente* *E ter o o universo na voz do coração3*
Poeta é quem reparte com o povo A essência realista dum
só verso... Nos poetas, há sempre um tempo novo Gerando um sentimento mais disperso...
*Quanto mais me conheço,
mais comprovo *Que o sol da poesia não tem preço*
*Tenho medo*
É na cidade
do mundo... Que posso andar á vontade Mas tenho um medo profundo... De me perder na cidade
Tenho medo de perder
O rumo certo da vida E não chegar a saber Qual a hora prometida
Tenho medo de sentir... A fúria do vento
norte Tenho medo de dormir... No leito da pouca sorte
Tenho medo do progresso Que tem as rédeas na mão Porque
não sei qual o preço Do progresso que me dão
Tenho medo da glória.... Que não quero receber Porque mais tarde,
a história... Não me deixará morrer
Tenho medo da razão Que não é razão de todos E magoa o coração Pela
falta de bons modos
Tenho medo da justiça... Que nem sempre é verdadeira E que ás vezes, enfeitiça.. Uma alma
justiceira
Tenho medo da cantiga Que tem duplas intenções Porque por vezes obriga A ter mais opiniões
Tenho medo da fronteira... Que divide o bem do mal Tenho medo da cegueira...Do sonho mais irreal
Setembro 99
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