*O encanto do Porto ao entardecer*
Esta cidade
Esta cidade
que nos dá tudo o que tem Sabe amar como ninguém E sabe chorar de dor Esta cidade que gosta do azul do mar Também
sabe respeitar Os mares da outra côr
Esta cidade sabe cantigas supremas E sabe inventar poemas Versejando
a gratidão E quando chora, simultaneamente canta Expulsando p´la garganta Os sopros do coração
Esta cidade
tem o dom da humildade E até sente vaidade Quando lhe chamam tripeira A sua história, toda coberta de glória Está
gravada na memória Desta gente hospitaleira
Cidade amiga que não desprezas ninguém No teu regaço de mãe Há
sempre uma nova chama Nesta cantiga, vai um ramo de desejos E vai um milhão de beijos Deste filho que te ama
*A minha rotina*
Por
vezes, dou comigo, calmamente A ler um livro bom e que me encanta A madrugada, lá surge lentamente E o sono, é
uma voz que se levanta
Mais um pequeno esforço e de seguida Pouso o meu livro, marcando o recomeço Desligo
a luz e adormeço a vida Para gozar o descanso que mereço
Dormindo, vou sonhando livremente Com coisas que
me dão para cantar Se de manhã, acordo sorridente Abro a janela, para ver o sol brilhar
Oiço um pardal, na
beira do postigo Mas não percebo bem, o que ele diz Não sei se tenta conversar comigo Mas sei que canta, porque
está feliz
Dou de beber aos cravos sonhadores Que estão no meu jardim, desde botões São cravos simples, mas
são bonitas flores Que por vezes alegram corações
Depois desta rotina matinal Que me faz despertar, mesmo
com sono Vem a fadiga dum dia maquinal Em que deixo de ser de mim, o dono
Trabalhos, compromissos e canseiras
Dedicação a quem não me conhece Refeições barulhentas e ligeiras Enchendo a minha alma de stress
Ao fim
da tarde, regresso então ao lar Onde não tenho sintomas de riqueza Mas tenho uma família para amar E tenho o pão
honrado sobre a mesa
E quando a noite cai suavemente Anunciando a hora de dormir Eu sinto-me feliz e mui contente
Por amar, por sonhar, por existir
Então, para beber sabedoria Abro o livro, que tinha começado E assim
vou vivendo o dia a dia Que faz de mim, um ser domesticado
A vida é que me destina Este viver de rotina!
* Dezembro 98 *
*A esfera giratória*
Na esfera giratória... Gira a vida num segundo Lá no fundo
da memória... Gira a memória do mundo
Nos contratempos do tempo Gira a força do futuro Nos palcos do pensamento
Gira o amor belo e puro
Nos cantos do universo... Giram vozes e mais vozes No sonho mais controverso... Giram
os sonhos velozes
Para lá do infinito Giram os mitos eternos Cá, neste mundo esquisito Giram mais de mil
infernos
Assim vai girando a vida... Na cadência da decência E na hora da partida... Giram almas sem cadência
* Dezembro 95 *
*A Lili e o Zizi*
A Lili e o Zizi... São jovens que conheci Um dia,
a bela Lili... Disse ao pobre do Zizi: Zizi... não gosto de ti!
Muito tristonho, o Zizi... Perguntou com emoção
Essa frase que eu ouvi... Foi dita p´lo coração?
Se acaso compreendi... Que já não gostas de mim Vou despedir-me
de ti... Pois tudo chegou ao fim
Tenho pena que assim seja... Porém, não te quero mal Quero que o sol te proteja...
De qualquer mau vendaval
Tais palavras, comoveram... O coração da Lili Seus olhos emudeceram.... Tal qual como
os do Zizi
Olharam-se enternecidos... Com um sorriso á mistura E correram á procura... Dos beijos apetecidos
Porque
afinal, a Lili... Essa pequena flor Só queria, do Zizi... A prova do seu amor
Este conto que
escrevi... Nada tem de especial É a história real.. Do Zizi e da Lili
* 1989 *
*A minha árvore*
Estudei a minha árvore genealógica
e cheguei à seguinte conclusão: Muito embora pecador... Sou descendente do Amor
Sou descendente do sonho Sou
trovador... sou poeta E nos versos que componho Tenho o amor como meta
Sou peregrino do verso... Moro na rua
do tempo Sou alma dum novo vento... Sou um vento mais disperso
Sou aquilo que o amor Permite que eu possa
ser Para mim, só tem valor O direito de viver
Na passagem tão fugaz... Desta vida tão vazia Só o amor
é capaz... De nos dar outra magia
E quando a vida tem côr Tudo no mundo tem luz Quando o mundo tem amor Só
o mundo nos seduz
*A minha história*
Eu joguei à bola, no pátio da escola
Escondi a sacola, para ninguém ver Rasguei o calção, suei o meu rosto Para ter o gosto, de poder vencer
Matei
o meu tempo, da melhor maneira E na brincadeira, até fui doutor E lá fui crescendo, tentando aprender Como resolver,
as coisas do amor
Tive namorada, fruto da idade E foi sem maldade, que trocamos beijos De quando em vez, pensamos
casar P´ra realizar, infantis desejos
Porém certo dia, conheci a tal Que foi afinal, o amor primeiro Deixei
de brincar, falei de paixão E nasceu então, o amor verdadeiro
Chegou a idade, do novo destino E o tal menino,
agora é passado A vida mudou, o tempo avançou E assim se gerou, mais um novo fado
No jardim do amor, nasceu
uma flor Símbolo maior, da realidade Uma flor mimosa, e angelical Que é fruto real, da felicidade
* Setembro 1990 *
*A minha reflexão*
Sou mais novo que a poesia... Mas
mais velho do que sou Nasci ao romper dum dia... Em que a nostalgia De mim se apossou
Sou mais novo do que
o mar... Mas sou mais velho que a onda Nas marés por inventar Não há um luar... que por mim responda
Sou mais
velho que o poema... Mas sou mais novo que o tempo Eu sou a alma suprema No triste dilema... Do meu pensamento
Sou
o sonho que fez lei... Neste viver galopante Porém ainda não sei... Se conseguirei Um sonho constante
* Agosto 96 *
*A navalha e a muralha*
No fio duma navalha... Feita pela mão do medo
Ergueram uma muralha... Pra guardar o degredo
A muralha transformou-se Num feitiço traiçoeiro E revoltada,
virou-se Contra o próprio feiticeiro
Em convulsão e revolta... E com a razão em riste Ficou o degredo á solta...
E foi-se a muralha triste
Nem muralha, nem navalha Nem feitiço, nem senhor Já ninguém mais atrapalha A
liberdade maior
* Outubro 2002 *
*Á nossa amizade*
Tem uma vida de idade... Pouco
tempo, certamente No entanto, esta amizade... Tem mais vida pela frente
Nasceu tão naturalmente... Como nasce
uma flor Agora é parte envolvente... Do meu viver sonhador
Tem a marca sonhadora... Dum perfeito malmequer Tem
o perfume da aurora... E a côr do entardecer
Aos poucos vai confortando... Os contratempos do vento E até vai
controlando... O valor do sentimento
Já fazes parte de mim... Meu coração está contigo Queria ser teu jardim...
Ou ser teu porto d'abrigo
A pedra do coração*
Uma
pedra preciosa... Veio caír a meus pés Enquanto o sol que tu és... Ganhava o fogo da rosa
Baixei o corpo cansado
Para na pedra pegar Mas de repente, o luar Fez-se mais acentuado
Formou-se um cordão d´estrelas... Baloiçando
a descompasso O céu então ficou baço... Com as nuvens mais singelas
Quase sem que a lua visse Com que linhas
se cosia Fez-se novamente dia Sem que a pedra me fugisse
Finalmente consegui... Pegar a pedra do chão Fiz
dela, este coração... Que bate apenas por ti
* Setembro 2002 *
*A perfeição*
O tempo tem um brilho sofredor Mas não mostra
a razão porque está triste Embora a solidão mude de côr A perfeição do tempo, não existe
Perfeito é o meu
sonho côr de rosa Brilhando muito mais que a luz do dia Perfeita é a manhã mais radiosa Que nasce compensada p´la
magia
Perfeito é o caminho tentador Da mão, que vai além da sensatez Não há lei que proíba um grande amor
E quem more d´amor, sabe os porquês
Perfeito é o poema mensageiro Escrito pela mão da realidade O fado
é o eterno companheiro Do amor, da solidão e da saudade
* Julho 2001 *
*A saga do amor*
Esta saga das marés Qual odisseia
louca Que me dá de quando em vez... O mel da tua boca Tem brilhos sem luz, sem côr Tem ventos sem outro norte
Também tem a luz da dôr... E o luar da pouca sorte
Esta saga das paixões Qual vida prometida Tem o sal
das emoções... Nesta alma entristecida Também tem risos forçados Também tem choro violento Também tem sonhos errados...
No pulsar do sentimento
Esta saga da saudade Qual fado por cantar Tem a total liberdade... Dum poema por gerar
Também tem flores viçosas Tem bodas de diamantes Tem o perfume das rosas... Cada vez mais penetrante
Esta
saga só não tem Alguém que lhe queira bem!
* Setembro 2002 *
*Abandono de mim*
Vim
de longe, muito longe... Dessa terra de ninguém Vim do bem, p´ra fazer bem... Vim rasgar um horizonte Bebo água desta
fonte Que até faz pecar um monge
Vim dum corpo feito vida... Dum coração feito fé Sou força que não se vê...
Sou matéria que se vai De mim, quase nada sai Mas sinto a dôr da partida
Sou um sonho sem ter fim... Na sorte
que o tempo tem Sou carinho de ninguém.... Pois ninguém me quer prender Nesta forma de viver Sou abandono de mim!
* Dezembro 93 *
*Amor... é*
Transformar
em qualidades Os defeitos desse alguém Permitindo as liberdades Que no amor ficam bem
Transformar os pesadelos...
Em sonhos de rubra côr Inventar momentos belos.. Isso sim, isso é amor!
Deixar o beijo surgir Com pura simplicidade
Fazendo reflectir O sol da felicidade
Inventar um céu aberto... Cheio de nuvens reais Sonhar o amor mais
perto... Quando está longe demais
Transformar as tempestades Em primaveras brilhantes Ignorando as maldades
Que no amor são constantes
Não esperar pelo dia... Quando a noite tem calor Aceitar a fantasia... Isso sim,
isso é amor!
* Maio 96 *
*António Botto*
Mal te conheço, poeta Mal conheço
a tua obra... Mas porém em mim, já sobra Admiração concreta!
Admiro a tua paz... Admiro o teu sorriso Nos
poemas que me dás... Posso ver o paraíso
No jogo do sentimento Ganhaste o valor do verso Endeusaste o pensamento
No teu falar controverso
Não sei se vou entender Os teus versos, que vou ler... Quando de ti tiver fome Mesmo
não te percebendo Vou bebendo e vou sorvendo... A imensidão do teu nome
Botto... rei do sentimento Quem me
dera teu talento!
*Ao longe*
Ao
longe vejo o futuro... Mas não vejo a côr que tem Será que ele vem mais puro? Ou será que o meu futuro... Está preso
nas mãos d´alguém?
Ao longe vejo uma estrela Mas não lhe conheço a côr... Por muito que possa vê-la Não
consigo descrevê-la Nem sei se me traz calor
Ao longe vejo um regaço... Com rosas de côr diferente São transportados
num braço Atadas no mesmo laço... Forte e bastante abrangente
Ao longe vejo um navio Que parece estar parado...
As águas dêste meu rio Fazem com que o meu navio Não vá para nenhum lado
* Julho 2001 *
*Divagando*
Inventei um mundo... Feito
doutra lei Onde um moribundo... Pudesse ser rei
Inventei um rio... De margens reais Onde o vento frio... Deixasse
sinais
Inventei terrenos... De forte cultivo Onde um sonho a menos... Fosse o meu motivo
Inventei fronteiras...
Abertas ao povo Derrubei barreiras... Fiz um mundo novo
Inventei a luz... Dum dia risonho E por ti compuz...
As regras do sonho
Inventei manhãs... Despidas de medo E puz talismãs... Na mão dum segredo
Inventei a
vida... Inventei a morte E d´alma ferida... Disse adeus á sorte
Só não inventei... Um sonho maior Porque não
gerei... Pecados d'amor
* Maio 2001 *
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